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sábado, 9 de junho de 2012

“Da lembrança de um lírio que brilhou” ...


                                         Ricardo Rocha, Jorge Stanley, Gisleno Sá e Cesar Rasec
  *Por Paulo César  & Helena Conserva

Há 27 anos surgiu em Serra Talhada um grupo que revolucionou o cenário musical do interior de Pernambuco e do Nordeste: a banda de rock D. Gritos, formada por jovens serra-talhadenses: Camilo Melo, Ricardo Rocha e Jorge Stanley, os maiores nomes da banda. Esses garotos quebraram tabus,  preconceitos culturais e sociais com as letras irreverentes e autênticas das suas composições. O sonho chamado D. Gritos teve início da década de 80, nos últimos anos da ditadura militar – eles conquistaram a juventude daquela época e ainda hoje as composições continuam sendo tocadas nas emissoras de rádios locais e ouvidas por seus novos fãs.
Foram três discos gravados, “Barriga de Rei”, “ Traumas” e “Navegantes”, mas por falta de apoio financeiro apenas o primeiro foi lançado. A Banda D.Gritos venceu o Festival de Música Popular em Salgueiro, realizou shows em várias cidades dos estados do Nordeste. O sucesso obtido com músicas como “Escravos de Ninguém (Porra)”, “Loucos (Mayra)” e “Barriga de Rei” proporcionou ao grupo apresentações em emissoras de TV em Recife-PE e em Campina Grande-PB, além de matéria em jornais de grande circulação como o Diário de Pernambuco.
A história da Banda D. Gritos é forte, intensa e marcante tanto no contexto musical, com composições extremamente politizadas de Camilo Melo e Ricardo Rocha - eles cantavam em alto bom tom: “Deixe o trem passar. Não arranquem os trilhos”. Como forma de expressar a vontade em conseguir o almejado reconhecimento ou talvez denunciar apenas, já que o clima ainda era o de repressão – como pela proposta de rock sertanejo que o grupo se arvorava.
Em recente entrevista a TV Asa Branca, Camilo Melo, conta que o projetos deles de fazer rock sertanejo começou em casa.
(1) A banda liderada por Camilo Melo, Ricardo Rocha, Jorge Stanley e que contou com a participação de outros integrantes como Cleóbulo Ignácio (Binga), Jário Ferreira, Doda, Toinho Harmonia, Paulo Rastafári, Nilsinho, Gisleno Sá, César Rasec, Noroba, Derivan Calado e Elton Mourato, construiu em oito anos de existência um legado musical e uma história para nunca mais ser esquecida.
Os garotos com vocação, mas sem conhecimento musical, foram influenciados por músicos veteranos que em meados da década de 80 juntavam-se em rodas de violão na Praça Sérgio Magalhães ou na Concha Acústica para cantar e tocar. Fazia-se comum a presença de Dema, João Grudi e Zé Orlando. Ainda moleques, Camilo Melo e Ricardo Rocha já participavam desse movimento.
Tempo depois Camilo compôs a música “Escravo de Ninguém (Porra)” (a música foi composta em 1985 no inicio da banda) , e começaram, ele e Ricardo Rocha, a tocar em festas de aniversários e em apresentações nas escolas. Essas apresentações rederam a dupla o apoio e a presença de amigos e admiradores que já começavam a cantar as músicas do repertório. Outro integrante da banda, Jorge Stanley, estudou muito, mais de 6 horas diárias tocando e sempre ouvindo som produzido pelo baterista Neil Peart, da banda Rush. Logo ele já estava tocando em pé, de costas e também cantando, além dessas vertentes artísticas, ele foi peça fundamental em vários arranjos da Banda.
A Banda D.Gritos foi muito influenciada por grupos nacionais como os Paralamas do Sucesso, Titãs, RPM, Biquíni Cavadão, e em nível internacional por bandas como: Pink Floid e Smith, e regionalmente por Alceu Valença, Zé Ramalho, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, mais a grande referência foi a maior banda de Rock de todos os tempos, os The Beatles.
Mesmo com todas essas referências, o trabalho do D. Gritos é único, ele é singular, pois não existe nenhuma semelhança musical com qualquer outra banda ou cantor. A maioria das músicas são composições de Camilo e outras e parceria com Ricardo, mas há também músicas solos inéditas de Ricardo e também em algumas em parceria com Jorge Stanley.

 Jorge Stanley, Camilo Melo, Ricardo Rocha, Toinho Harmonia e Paulo Rastafári

Entre as músicas gravadas como: “Escravos de Ninguém (Porra)”, “Barriga de Rei”, “Grilos”, “Quando Será Minha Vez”, “Medo da Verdade” possuem um forte conteúdo político e social. Já “Loucos (Mayra)”, “Eu Sei”, “Romance Entre Abelhas” e “Coisas de Palhaços” são reflexos dos conflitos sentimentais e amorosos dos integrantes do grupo, uma pequena amostra da versatilidade e criatividade dos músicos.
Há duas músicas em especial que mostram o potencial de Camilo e Ricardo em reproduzir o sentimento momentâneo e a transcrição de um projeto de vida. São elas: “Fogão de Lenha” e “Navegantes”. “Fogão de Lenha” foi uma resposta a uma pergunta preconceituosa, e de certa forma racistas, feita por um repórter do Diário de Pernambuco aos roqueiros pajeuzeiros e a outra “Navegante”, um resumo dos desafios, das dúvidas, das certezas e incertezas, dos sonhos e das batalhas vividas ao longo de oito anos de existência da banda.
A última música que compuseram juntos, Camilo Melo e Ricardo Rocha “Homem Pó”, para nós, Serra-talhadense foi entendida como um prenúncio da fatalidade que viria a marcar a história da banda com a morte do vocalista Ricardo Rocha
(2) A trajetória de sucesso dos garotos foi interrompida de forma trágica na madrugada do dia 30 de setembro de 1993, quando realizavam o show na Praça Sergio Magalhães, na abertura da Festa de Setembro, em Serra Talhada, de forma inesperada Ricardo Rocha falece com apenas vinte e três anos.
Com a morte de Ricardo chegou ao fim o D.Gritos. O fim de um sonho de jovens sertanejos. Porém, o repertório musical da banda venceu o tempo, e uma prova disso é que elas continuam sendo executadas diariamente em rádios de todo o interior nordestino.
Em 2010 a Prefeitura Municipal e a Fundação Casa da Cultura promoveram um Tributo a Banda D.Gritos, pela primeira vez em mais de dezessete anos. Ex-integrantes do grupo Camilo Melo, Jorge Stanley, Gisleno Sá, Cesar Rasec e Nilsinho voltaram ao palco e a som de “Escravos de Ninguem (Porra)” fizeram uma viagem no tempo. O destino de forma irônica colocou todos juntos no mesmo local onde ocorreu a tragédia com Ricardo Rocha. O reencontro histórico da banda D.Gritos só veio a comprovar que “eles mudaram a dimensão daquilo que restou”, e que o “eco gritado de uma voz” continua navegando pelo tempo, como se fosse uma eterna melodia!
            Foi um momento especial “da lembrança de um lírio que brilhou”         - Ricardo Rocha que Deus ilumine teus caminhos nessa outra dimensão a que chegaste prematuramente.

Notas de rodapé:
(1) A Banda D.Gritos teve 4 formações, a 1ª foi formada Camilo Melo, Ricardo Rocha, Gleobálo Ignácio (Binga), Toinho Harmonia, Jário Ferreira, Edésio e Doda( entre 1985 e 1987) eles tinham entre 15 e 17 anos.
A 2ª. Camilo Melo, Ricardo Rocha, Paulo Rastafári, Jorge Stanley, Noroba e Toinho Harmonia (1987 e 1889).
A 3ª. Camilo Melo, Ricardo Rocha, Jorge Stanley e Girleno Sá (1990 a 1991).
A 4ª. Ricardo Rocha, Jorge Stanley, Girleno Sá, Cesar Rasec, Elton Mourato e Deriva Calado (1991 a 1993). Em vários shows e nas gravações dos discos Nilsinho participou tocando instrumentos de percussão, por isso ele considerados pelos colegas com um ex-D.Gritos.

(2) Ricardo recebeu o choque no palco durante a apresentação da banda, o show foi interrompendo, foram feitos os primeiros socorros no local e depois ele foi removidos para o Pronto Socorro São José onde deu entrada já sem vida. Foram feitos todos os procedimentos na tentativa de reanimá-lo, porém não surtiu efeito. Na certidão de óbito de Ricardo Rocha, assinado por Dr. Babosa Neto, o médico que o atendeu, consta que a causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória provocada por uma descarga elétrica. Na época foram feitos alguns reparos no palco e não foi aberto inquérito e nem foi divulgado um laudo pericial. Ele deixou esposa: Célia Rocha e dois filhos: Jéssica Rocha e Juliano Richard.

Como vivem alguns ex-intregrantes da banda hoje:
Camilo Melo, mora em Serra Talhada, continua no ramo artístico. Atualmente é produtor musical de sucesso, além de continuar compondo. A Banda Vizzú e Banda Gatinha Manhosa gravaram composiçoes suas. Também foi premiado no último Festival de Cinema em Triunfo. Jorge Stanley foi por dez anos backvocal da banda Limão Com Mel e por cinco da Gatinha Manhosa, hoje e dono de uma produtora de eventos e reside na cidade Salgueiro.
Gisleno Sá trabalho em algumas peças teatrais na cidade e atualmente é um empresário bem sucedido no ramo de películas para automoveis e vidraças. César Rasec passou por várias bandas nas quais sempre foi elogiado, isso fez dele um dos maiores guitarristas do Nordeste. Reside em Serra Talhada. Paulo Rastafari, fez suscesso em várias bandas de forro atualmente mora em Juazeira do Norte -CE. Toinho Harmonia residente em São Paulo a mais de quinze anos. Nilsinho continua em Serra Talhada, participa de alguns shows e de gravações de cd’s de artistas da terra. Elton Mourato trabalho por mais dez na banda do cantor Assisão e atuamente é motoritas de uma empresa de materila de construçõa, Derivam Calado mora em São José do Egito e particcipa de uma banda de rock da cidade e Doda mora no Rio de Janeiro.

*Paulo César é professor de História e especialista em História Geral, bacharelando do curso de Direito na FIS e aluno especial do mestrado em História na UFCG (Capina Grande – PB).

*Helena Conserva é professora e jornalista - aluna especial do Mestrado em Desenho, Interatividade e Cultura da Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia


Navegantes
 (Camilo Melo/Ricardo Rocha)

Nós mudamos a dimensão daquilo que restou
Da lembrança de um lírio que brilhou
Pra dar ao verde o verde que se acabou
E pelo homem que foi e não voltou
E por nós mesmos, quando ninguém chorou.
E o eco gritado de uma voz
A razão torturada por todos nós
Aqui a esperar.

Se navegamos tanto sem parar
Não é motivo pra desistir
Ficar aqui e não lutar
Se nós lutamos tanto sem ganhar
Não é motivo pra desistir
Esse é um jogo que não pode parar.

E nós chegamos a desvendar todo o mistério
De uma batalha que ninguém vai ganhar
E de uma árvore que nunca vão derrubar.
E se o negro das idéias nos caçar
Nos desculpem mas não vamos nos calar.
E o eco gritado de uma voz
A razão torturada por todos nós
Aqui a esperar.

Se navegamos tanto sem parar
Não é motivo pra desistir
Ficar aqui e não lutar
Se nós lutamos tanto sem ganhar
Não é motivo pra desistir
Esse é um jogo que não pode parar.

Homem Pó
(Camilo Melo/Ricardo Rocha)

Sentado estava o homem
Pensando e observando ao seu redor
Viu que havia medo
E as pessoas e seus segredos
Não estavam sós.
E procurava...
Mesmo com as armadilhas sob o pó.

Pó que cobre a terra
Terra que engole homens
Homens que se matam sem dó.
Vidas que nasciam
Vidas que morriam
Vidas que apenas se escondiam.

Veja seus filhos
Que criarão os seus filhos
Filhos de um homem que morre
Veja seus netos
Que criarão os seus netos
Netos de um homem que morre.

Em pé ficou o homem
Lembrou que há vários dias estava ali
Lembrou de seus três filhos em casa esperando
Pelo pai, homem sentado, que morre.

Correu desesperado
Não sabia onde morava
O nome de seus três filhos esqueceu.
E quase maluco
Em seus últimos minutos
Olhou pra terra e viu que era pó.
Veja seus filhos
Veja seus netos.


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