Nos dias atuais, a experiência de torcer para um
time de futebol no Brasil guarda alguma correpondência com aquelas ações
ritualisticamente etnocêntricas utilizadas para mapear e estranhar o “outro”,
tão comuns quando se tem indivíduos de culturas diferentes tentando se
compreender mutuamente. É comum nestes exercícios – às vezes jocosos, às vezes
violentos – construir uma imagem caricaturizada do outro time e da outra
torcida como uma entidade repleta de defeitos.
Exagera-se na desqualificação,
atribuem-se falhas biográficas, minimizam-se qualidades e conquistas. Essa
dicotomização entre o “nós” e os “outros” é uma prática social bastante comum
na humanidade. Através dela costuma-se dispor opositiva e constrastivamente
nações, etnias, tribos, clãs, (…) subgrupos sociais que ocupam algum grau de
antagonismo. No caso do futebol, há toda uma variedade na forma como isso
acontece. Pode comportar desde a jocosa e inofensiva “flauta” até atos
violentos de ódio alterofóbico (alterofobia= repulsa pelo outro). No primeiro
caso trata-se de piadas, trocadilhos, etc., que tornam a rivalidade uma grande
brincadeira a dramatizar lúdicas rupturas na unidade social.
No segundo caso
trata-se, quase sempre, de violência física e/ou simbólica, desferida contra o
outro campo, alimentada por um tipo de autorrepresentação muito positiva de si
mesmo e uma percepção altamente desqualificadora do outro que pode se valer de
acusações racistas, xenofóbicas, homofóbicas, etc. A antropologia, através dos
trabalhos produzidos por pesquisadores do tema, pode nos auxiliar na percepção das
sutilezas desses antagonismos, sejam eles lúdicos ou violentos. Cabe, contudo,
à sociedade, socorrendo-se desses saberes, encontrar meios de controlar essas
manifestações perniciosas.
Fonte: Jornal Mundo Jovem
– Encarte de Sociologia – setembro de 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário