É preciso compreender todos os cenários e como estamos inseridos neles
para então fazer as nossas escolhas. E quem sabe, fazer diferente!
Não adianta rebolar em cima da mesa.
Não vamos compreender a Internet com o ferramental que temos sobre a
história.
É algo novo e precisamos rever como pensamos a história do ser humano,
senão vamos ficar na fumaça tossindo, cof, cof, cof. Seremos incapazes de
entender a lógica da maré e ficaremos vendo a espuma.
Por isso, precisamos de uma nova teoria (lógica) para explicar fatos
sociais, como macro mudanças que consigam fazer uma relação entre movimentos
como o aumento da população, o surgimento da Internet e as consequências desses
fatos para a sociedade.
Neste artigo tentarei explanar de forma mais efetiva, ainda provisória,
que crescimento de população é macro-história, o surgimento da Internet é
média-história e as mudanças ocorridas na sociedade por causa das duas faz
parte da micro-história.
Todas relacionadas, porém temos menos possibilidade de atuação, conforme
o tamanho do movimento, na macro-história quase nenhum, pois o aumento da
população é irreversível, depois de estabelecido. E gera demandas a serem
atendidas. Isso cria uma tensão para épocas futuras. Eclodem em movimentos de
massa como a adesão a meios novos de comunicação e informação para os quais
também podemos mudar algo na oferta, mas não na demanda.
E, por fim, ações na micro-história na qual podemos interferir se for
possível compreender que existem fatos irreversíveis.
Em resumo seria isso. Vamos lá.
Conceitos aplicados
Algumas teorias já trabalham aqui e ali, com fenômenos macro e micros, a
Economia, a Ecologia, Medicina
(com epidemiologia) tratam destas questões com certa desenvoltura. Trabalhei um
pouco com isso na minha tese de doutorado.
Pois bem. A macro-história seria formada de fatos marcantes que alteram
fortemente nossa maneira de sobrevivência no planeta, a média entraria em
fenômenos intermediários de massa e esses são consequências dessa mudança e a
micro no dia-a-dia.
Em resumo:
·
Se alterar substancialmente a sobrevivência e o cumprimento de nossas
necessidades básicas, afeta a macro-história: aumento da população, grandes
fenômenos naturais como a queda de um meteorito, algumas bombas atômicas,
mudanças radicais no clima, a visita de ETs;
·
Fatos que acontecem de forma coletiva, impulsionados por consequências
macro-históricas, principalmente o novo cenário e demandas, criam uma
média-história. Sobre tais acontecimentos temos parcialmente controle, tais
como epidemias, grandes migrações, difusão de uma nova mídia como a Internet.
Porém, eles vêm atender a movimentos para os quais não temos como evitá-los,
mas apenas fazer pequenos ajustes, pois são consequências de fatores externos à
sociedade (muita gente, por exemplo, cria demandas irreversíveis, que passam a
ser independentes de nossa vontade);
·
A micro-história se relaciona aos fatores condicionados por estes de
cima, que nós temos mais possibilidade de controle, de intervenção, tanto para
evitar como, de forma consciente ou inconsciente, promover. Porém, são
condicionadas por aqueles.
O problema é: achamos que podemos alterar tudo e mexer com tudo e não
conseguimos analisar as limitações dos seres humanos e como lidar com elas.
Isso é algo muito demonstrado na Internet.
Ou seja, somos impotentes diante das consequências
da macro-história ou parcialmente impotentes e mais potentes diante da média e
com capacidade de influenciar diretamente na micro-história.
Somos sujeitados pela primeira e mais sujeitos da última, obviamente há
troca constante entre as duas, com a média-história no meio, pois uma bomba
atômica é algo que o ser humano pode lançar, mas não pode controlar os danos e
as consequência desse ato.
Os movimentos macros criam demandas, tendências, para a média e
micro-história resolverem com ações individuais e coletivas. Podemos supor, que
o rápido e acelerado crescimento da população de um para sete bilhões nos
últimos 200 anos altera bastante o panorama da civilização e eu caracterizaria
como fenômeno macro-histórico, pois depois de estabelecido, algumas
mudanças ocorrerão independente da nossa vontade.
Sete bilhões de almas é um fator irreversível, pois elas estão aí com
demandas a serem atendidas.
Ponto!
Há demandas a serem atendidas sem apelação, sem possibilidade de
alterá-las. Todos acordamos com fome e queremos comer. Mesmo com as diferenças
regionais e de poder aquisitivo entre as populações, de maneira geral,
amplia-se o “problema consumo”, fica mais complexo.
Vide a criação das megacidades e todos os ajustes feitos para nos situar
com tanta gente.
Não houve um grande cérebro planejando a explosão demográfica, mas isso
não quer dizer que não temos responsabilidade!
Ou seja, fomos passivos e agora o fato consumado est. Certo?
Só teríamos uma forma de interferir nesse processo: por meio do controle
populacional, de forma ativa, mas isso não foi feito no passado.
Não houve também um macro-planejamento para abrigar essa nova população
e agora herdamos um planeta com sete bilhões de seres humanos demandantes, com
fome, querendo melhorar de vida, migrando para lugares mais ricos, etc.
E o mundo se vira de forma distinta. Deixa (de forma deliberada, ou não)
que uma parcela morra, via fome, doenças, ou mesmo, como ocorreu em tempo recente,
com holocaustos planejados.
Loucuras macro-históricas de um macro-louco. Criamos, enfim, uma demanda
a ser resolvida.
Ponto.
Ou seja, a macro-história não faz produtos, revoluções sociais, não é
agente ativo, mas é agente demandante, cria necessidades reais e concretas que
o mundo não pode simplesmente ignorar. É preciso resolver e o faz em movimentos
na média e micro-história.
Somos uma geração marcada por esse fenômeno
macro-histórico (multiplicar 7 vezes a população em 200 anos) que cria demandas
para a média e micro-história resolver.
A Internet é um fenômeno médio-histórico.
É uma tecnologia de comunicação e informação que vem resolver uma
demanda relativa ao crescimento populacional. Do ponto de vista da demanda é
algo incontrolável, precisamos de um ambiente mais rápido e com mais qualidade
de troca de ideias.
Restam as ofertas, produzidas e parcialmente guiadas ao sabor dos
mercados.
Assim, o ambiente de troca digital em rede de
ideias surge por uma latência da macro-histórica: resolver problemas de
informação e comunicação de uma superpopulação que precisa de outro espaço para
a troca de ideias, para inovar e sobreviver com mais conforto na sociedade.
Ou seja, essa demanda é macro-latente e não é micro-planejada. Há também
demandas de transporte, de energia, de alimentos, etc., motivadas por essas
macro-demandas.
Porém, o uso da informação e da comunicação é algo estruturante no ser
humano, pois todas as outras ofertas e demandas passam pela nossa capacidade de
conhecer, trocar, inovar, etc.
É uma alteração numa placa-mãe da sociedade e afeta todas as outras
áreas, criando consequências também irreversíveis. E quando é alterada a forma
como nos informamos e trocamos, geramos consequências também para a sociedade.
São tendências que estão acima das vontades, pois precisam se ajustar às
maiores.
(Isso vale para a Internet como para a prensa de papéis impressos, em
1450)
Ou seja, não é possível dizer que a rede é um fenômeno natural, surgido
por si mesmo, mas sim afirmar: ela vem atender a uma latência invisível da
macro-história, por causa da demanda da nova população.
E depois de estabelecida, passa a influenciar fortemente na
micro-história, pois abre a possibilidade do ajuste necessário entre um mundo
pré-explosão demográfica e outro a ser adequado a este.
O interessante do fenômeno é que ele nos chama a atenção para os
movimentos macro-históricos e para o papel da informação nas mudanças na
micro-história. É possível supor a regra:
Quanto mais gente existir, maior é a necessidade de
informação de qualidade e com velocidade para manter todos vivos.
Isso é um regulador da média-história, na qual a Internet transita.
E leva para a micro-história mudanças da sociedade, pois com a
informação circulando, as estruturas sonolentas de poder são despertadas e
novos agentes de mudança ganham instrumentos para isso, tanto para informar,
como articular, vide Eleição do Obama, Egito e agora Espanha.
Ou seja, só vamos entender diversos fenômenos da micro-história ao
conhecer o efeito da macro-história no geral. Se não, ficamos perdidos entre
tendências e modismos e essa, a meu ver, é a grande dificuldade de
visualizarmos os fatos atuais.
Querem impedir algo que não temos controle: as exigências de uma nova
população muito maior.
Não há ingerência, possibilidade, pois se trata de um movimento
macro-histórico para o qual somos impotentes, pois já foi criado. A rede é um
movimento médio-histórico criador de um novo patamar das mudanças que vão
acontecer daqui por diante em micro-movimentos.
Estamos em outro patamar no caminhar de algo bem maior. Podemos atuar na
micro-história, sim, para regular e conduzir melhor o processo, mas isso exige
um grande esforço de compreensão do cenário e isso pouca gente tem hoje. A
academia está perdida no seu próprio umbigo e as empresas no afã do lucro e
para resolver o problema da semana seguinte não conseguem subir adequadamente
na montanha.
Escuridão no breu.
Sobram por aí meia dúzia de pensadores independentes ainda sem força na
sociedade para trazer mais luz ao cenário.
Bom, é preciso dizer, ainda:
Isso tudo é só treino, pois o jogo não começou (estamos nos primeiros 5
minutos do primeiro tempo no movimento médio-histórico.)
Por fim, para fechar, no macro, temos “o que” e o “por quê”?
·
O quê? – mais agilidade, menos burocracia, descentralização, colaboração,
velocidade (isso vai acontecer com o tempo, querendo ou não os agentes da
micro-história);
·
Por quê? – muita gente, problemas de produção, de inovação, de informação e de
controle, que precisam se adequar ao novo ritmo.
No micro, temos o “como?”
·
Como? – empresas 2.0, escolas 2.0, governos 2.0, cidades 2.0, etc 2.0, o que
não se pode prever é o quando, exatamente como e quem, aonde, etc. Isso vai
depender de vários fatores ainda não inteiramente conhecidos, vide a explosão
na Espanha (juventude bem formada + Internet + desemprego), dentro dos
movimentos da micro-história.
É um fenômeno ainda acima de nossa compreensão, pois não vemos a
história dessa maneira e com esses movimentos – digamos – independentes de
nossas vontades.
Quando abordo o assunto com alguns marxistas, por exemplo, o pessoal
pula na tamanca, mas relendo Marx tudo se encaixa perfeitamente dentro da ideia
do materialismo histórico.
O ser humano é agente daquilo que ele pode mudar. No que não pode ele é
objeto. E determinados fatores estão acima das lutas na micro história, tal
como aumentar a população de forma vertiginosa.
Temos certo grau (pequeno) de controle da oferta da Internet, mas não da
demanda. Somos impotentes em relação ao ajuste necessário proporcionado por ela
com a arrumada da civilização para abrigar a nova população em tamanho.
E é essa a peça que falta no tabuleiro: aceitarmos o macro-movimento
inapelável.
E, dentro deste, ter consciência do que é ajuste da vela, para seguir
para onde o macro-vento sopra.
E o que temos condição de mudar no leme nos micro-ajustes para onde o
novo cenário nos leva.
Eis aí o cenário e nossa possibilidade de intervenção nele. O difícil
agora é conseguirmos passar essa visão e agirmos o quanto antes.
Que dizes?
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