Capela
da Cruz da Moça
Serra Talhada é uma cidade onde
floresce inúmeras lendas e mitos, muitas das quais se confundem com a história
da própria cidade. Dentre os vários episódios que habitam o imaginário popular,
um merece destaque, a origem da capela da “Cruz da Moça”. Fanatismo, tragédia
ou só mais uma lenda urbana?
Foi com intuito de responder essas
indagações que eu e o inoxidável fotográfico, Alejandro García, adentramos pelas ruas do bairro São Cristóvão,
em busca de algumas respostas. Nosso trajeto iniciou-se pela capela da Cruz da
Moça, onde de lá partimos em busca do homem que é o responsável pela reforma e
pela chave do templo religioso.
Com base nas informações dos populares
chegamos até a casa do simpático João Faz Tudo, um senhor aposentado de 76
anos, que nos deu informações preciosas sobre a lendária capela.
A
famosa Cruz da Moça
1.1.
Um crime passional que abalou a cidade
Seu João nos contou que em meados da
década de 1960, onde hoje fica localizada a movimentada Avenida Afonso
Magalhães, existia uma pequena estrada de terra cercada por várias árvores e
arbustos, que dava acesso a um chafariz que foi construído pelo ex-vereador
Saraiva de Alencar, que ficava no início da PE – 350.
Segundo ele, foi nessa estrada de terra
que em 1966, foi brutalmente assassinada a jovem Maria do Carmo, que acabou
sendo imortalizada com alcunha de “a moça”. Várias são as versões que levaram a
morte da garota, no entanto, a que prevalece é a de crime passional. Uma das
versões conhecidas é narrada pelo próprio João Faz Tudo.
“Uma senhora ficou com ciúmes da moça,
pois o seu marido havia se engraçado pela bela morena. E por essa razão ela
chamou Maria do Carmo para pegar água no chafariz e no meio do percurso
desferiu vários golpes de faca na moça, levando-a a óbito”.
No entanto, a versão oficial foi nos contada por Adeilde Gomes, dona de
casa de 60. “Maria do Carmo foi assassinada porque o seu irmão não queria
namorar a mulher que veio a cometer o crime”, nos narrou dona Adeilde. A
história foi confirmada por Joãozinho Antunes, filho de João Antunes, que foi
advogado de defesa.
O fato é que o crime repercutiu em toda a cidade, o que fez com que a
cadeia de Serra Talhada – que ficava onde hoje é localizado o Fórum –
recebesse centenas de curiosos, que queria visitar a responsável por aquele
crime bárbaro.
O julgamento foi um dos maiores acontecimentos jurídicos já registrados
na cidade até então, e em função da comoção popular, o júri acabou sendo
realizado no Clube Intermunicipal de Serra Talhada (CIST), já que o Fórum –
atual Casa da Cultura – não comportava a quantidade de pessoas.
O debate entre o promotor e o advogado
de defesa, fui muito acalorado, e mexeu com as emoções dos presentes. Em um dos
momentos mais tensos, o irmão da vítima exibiu o vestido ensangüentado usado
por Maria do Carmo no dia fatídico. Porém, apesar da pressão da opinião
pública, a ré acabou absolvida.
Segundo o filho de João Antunes, “a
defesa foi baseada na idade do pai da ré, ele, um senhor idoso que passava por
várias ruas da cidade até chegar à cadeia pública, com um prato enrolado com um
pano, no qual levava a comida da criminosa, comoveu a população e de repente as
pessoas não sabiam de quem deviam ter mais pena, se pela moça ou pelo pai da
autora do crime. O resultado final foi sete a zero, absorvendo a acusada que
posteriormente foi mora no estado da Paraíba”.
Capela
de Nossa Senhora do Carmo
1.2.
De uma graça atribuída à jovem Maria do Carmo nasce
a capela da cruz da moça
Poucos dias depois do assassinato, a
família de Maria colocou uma simples cruz de madeira aonde ela havia tombado. O
local exato onde a cruz foi fincada hoje é uma esquina da Avenida Afonso
Magalhães. A singela cruz começou a atrair atenção dos moradores da cidade
ganhando maior dimensão a partir do momento em que uma senhora, por nome
Deolinda, conseguiu ter uma promessa atendida. A senhora atribuiu “a moça” a
graça alcançada.
Como forma de pagar a promessa, dona
Deolinda vendeu uma casa e comprou um terreno no alto de um serrote – cercas de
duzentos metros do local do crime – e lá construiu a “cruz da moça”. O serrote
que antes era um local cheio de pedregulho foi gradativamente sendo ocupado e
urbanizado com o passar dos anos, bem como o crescimento do fascínio que a
história da cruz da moça exerce sobre os serra-talhadenses de diversas
gerações.
Em 2011, dona Deolinda passou a
responsabilidade de cuidar da pequena capela para Seu João Faz Tudo. Foi pelas
mãos de Seu João que a capela foi reconstruída e ampliada. Foi dele (João) a
iniciativa de construir uma cruz de ferro com o nome de Nossa Senhora do Carmo
e da Moça, o aposentado também elaborou os desenhos da fachada e assentou o
piso do templo.
JOÃO FAZ TUDO: O
GUARDIÃO DA CAPELA
Ao mesmo tempo que descreveu todo o processo
de construção da nova capela, Seu João citou os nomes dos empresários que o
ajudaram na realização da obra e o de dona Conselho Lima, responsável pela
doação da energia que ilumina a capela. Para o homem que recebeu o apelido de
Faz Tudo, cuidar da capela é uma das grandes missões de sua vida.
Anualmente, mais precisamente no mês de
julho, é realizado um novenário no local. A festividade católica é acompanhada
por dezenas de fiéis dos bairros São Cristóvão e do Alto da Conceição, e de
vários grupos religiosos do centro da cidade. A missa de encerramento é
antecedida de uma procissão e a celebração fica a cargo do Padre Maciel.
Interior da capela
Nenhum comentário:
Postar um comentário