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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

FILOSOFIA DO DIREITO

Autor: Professor Paulo César


 “Qualquer princípio ético se desdobra em duas ordens de valoração, porque os actos que se trata de valorar podem ser considerados por dois aspectos distintos.”

O autor busca nos mostra que o sistema ético, que na verdade é uma estrutura entrelaçada por vários valores que se completam, pode ser separado por dois pontos de ação, uma objetiva e a outra subjetiva.

Verificamos que ação de determinado indivíduo tomada de forma isolada, seguindo apenas seus princípios, é considera como sendo objetiva. No momento em que ela passa a ser submetida à coletividade, ela pode se aceita por alguns e não praticada por todos, ou vise e versa, ela é considerado como sendo uma ação subjetiva.

Quando transportamos essa analise para a discussão sobre Direito e Moral, iremos observar que o autor coloca a Moral como sendo uma ação objetiva, já que o individuo pode agir conforme seus princípios, sejam eles religiosos, políticos, sociais ou culturais. Sendo assim, ação Moral, que é prática de forma individual, é considerada com sendo objetiva.

No que se refere ao Direto, ele é considerado com uma ação subjetiva, já que as normas jurídicas são criadas com o objetivo de atender as necessidades do “tecido social” e da coletividade, o que necessariamente pode não agradar a todos, porém uma vez criada passar a ser uma regra geral, adquirindo assim um caráter subjetivo.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião - (1898 – 1938)


Um menino, nascido no sertão pernambucano, no sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, se transformou no mais forte símbolo do cangaço. Alto, pele queimada pelo sol sertanejo, praticamente cego do olho direito, cabelos crespos na altura dos ombros e braços fortes, assim Lampião comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades. Dinheiro, prataria, animais, jóias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo bando, que ficava com o suficiente para manter o grupo por alguns dias e dividiam o restante com as famílias pobres do lugar. Dessa forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda conseguia aliados.

A infância de Virgulino transcorreu normalmente, em nada diferente das outras crianças que com ele convivia. Criado com mais 7 irmãos, Lampião sabia ler e escrever, tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês, costurava e era habilidoso com o couro. Enfeitar roupas, chapéus e até armas com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião. Armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço, que vem de canga, peça de madeira utilizada para prender o boi ao carro.


O início do Cangaço

Lampião não foi o criador do cangaço. Os relatos mais antigos de cangaceiros remontam a meados do século 18, quando José Gomes, conhecido como Cabeleira, aterrorizava os povoados do sertão. Lampião só nasceria quase 130 anos. Após o assassinato do pai, em 1920, ele e mais dois irmãos resolveram entrar para o bando do cangaceiro Sinhô Pereira. Duramente perseguido pela polícia, Pereira decidiu sair do Nordeste e deixou o jovem Virgulino Ferreira, então com 24 anos, no comando do grupo. Era o início do lendário Lampião.Os dezoito anos no cangaço forjaram um homem de personalidade forte e temido entre todos, mas também trouxeram riqueza a Lampião.

Movimentos populares como Canudos, Contestado e tantos outros surgiram com maior foco de resistência e vigor no nordeste, esta região de seca, castigada e sofrida, por onde passava o lendário Lampião. A pobreza, a falta de esperanças e a revolta foram incentivos importantes para que começassem a surgir os cangaceiros.


Maria Bonita



Foi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita. Em suas andanças e fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal. Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos.


História ou Estória

Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam para jantar e pernoitar num pequeno sítio. Um dos homens do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de 80 anos, tinha preparado um ensopado de galinha. O sujeito saiu e voltou com uma cabra morta nos braços. "Tá aqui. Matei essa cabra. Agora, a senhora pode cozinhar pra mim", disse. A velhinha, chorando, contou que só tinha aquela cabra e que era dela que tirava o leite dos três netos. Sem tirar os olhos do prato, Lampião ordenou um de seu bando: "Pague a cabra da mulher". O outro, contrariado, jogou algumas moedas na mesa: "Isso pra mim é esmola". Ao que Lampião retrucou: "Agora pague a cabra, sujeito". "Mas, Lampião, eu já paguei". "Não. Aquilo, como você disse, era uma esmola. Agora, pague."



As cabeças decepadas são: (de baixo para cima e da direita para esquerda) 1- Lampião;
2- Quinta Feira; 3- Maria Bonita; 4- Luiz Pedro; 5- Mergulhão; 6- Manoel Miguel (Elétrico);
7- Caixa de Fósforo; 8- Enedina; 9- Cajarana; 10 e 11- Moeda e Mangueira (?)




A perseguição e morte


28 de julho de 1938. Chega ao fim a trajetória do mais popular cangaceiro do Brasil. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi morto na Grota do Angico, interior de Sergipe. Por sua inteligência e destreza, Lampião até hoje é considerado o Rei do Cangaço.

Na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco, após uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra um bando de 35 cangaceiros. Apanhados de surpresa, os bandidos não tiveram chance. Combateram pouco tempo e, entre os mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Lampião. Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos. No momento da sua morte, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais. Estava decretado o fim do cangaço.

Comentário sobre o filme "Honra e Coragem” e o Imperialismo inglês no século XIX


Autor: Professor Paulo César - Especialista em História Geral

 

O Imperialismo é uma das fases capitalismo na qual mais se praticou babares, o desejo de adquirir novos territórios e mercados, e principalmente, um modelo de economia de exploração, dominação e extermínio de povos, tribos e hábitos culturais. Esse modelo de dominação foi utilizado pelas maiores potências mundial, e as regiões mais agredidas se localizaram nos Continentes asiáticos, africano e latino americano.

                         Entre as áreas mais devastadas citamos como exemplo o continente africano, conhecido por ser formado por vários países e áreas ricas em minério, soma se a isso, a grande quantidade de tribos de diversas etnias, que travam uma luta constante pelo poder.

                         É em um cenário marcado por muitas contradições que o filme “Honra e Coragem” se passa.

                         No auge do Imperialismo inglês, um grupo de jovens membros da cavalaria real, é enviado ao Sudão, país africano que é ocupado por britânicos e que resiste bravamente ao domínio estrangeiro.

                        O povo sudanês resistia ao ataque das forças inimigas usando táticas de guerrilha, por outro lado, os ingleses esbanjavam o seu poderio bélico, tornado o conflito extremamente sangrento.

                        Os britânicos a serviços da sua rainha e de seu governo, os quais se proclamavam os melhores do mundo, expondo assim, umas das principais caracterizas dos países imperialistas, a arrogância com relação às minorias.

                         Os invasores escravizaram parte do povo Sudanês, usando-os como força de trabalho, além de tentarem de impor a cultura ocidental. Essa imposição desencadeou uma revolta grandiosa por parte da população, mesmo diante das derrotas sucessivas, o prepotente governo britânico não recuou. Em quanto à rainha em seu suntuoso castelo, recebia reverencias, como se a mesma fosse uma divindade, milhares de jovens eram mortos em nome de uma política autoritária e truculenta, que não valorizava a vida, e sim, a conquista e o domínio de Estados - nação em formação.




 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Texto do blog Zuada do Sertão: D.GRITOS, a chama que se apagou mas continua a brilhar.

Uma das primeiras bandas a representar o rock and roll no sertão do Pernambuco, o D.Gritos marcou toda uma geração na cidade de Serra Talhada.
Iniciada em 1986, a banda gravou três discos “Barriga de Rei”, “Traumas” e “Navegantes”, sendo que apenas o primeiro foi lançado oficialmente.
Com melodias trabalhadas e letras marcantes, o D.Gritos conseguiu espaço num cenário antes pouco aberto ao rock, fato que contribuiu maciçamente no surgimento inúmeros apreciadores do estilo musical não apenas em Serra Talhada mas em muitas cidades por onde a banda passou.
Infelizmente no dia 29 de agosto de 1993, um dos líderes da banda Ricardo Rocha, sofreu uma fortíssima descarga elétrica em pleno palco e veio a falecer, fato que decretou o fim da banda. No entanto, o D.Gritos é lembrado e respeitado até hoje e continua a influenciar muitos músicos na região.

D.Gritos - Escravos de Ninguém (Porra). Ao vivo em 1989.
 
FONTES:
 
 
 
 
 
 
 
 
Texto publicado blog:http://zuadadosertao.blogspot.com.br

terça-feira, 27 de novembro de 2012

CANGAÇO: UMA VISÃO PARA ALÉM DOS CONCEITOS E DAS SENTENÇAS

Autor: Aroldo Ferreira Leão - Petrolina - PE
Novembro de 2008
 
 
Tema por demais complexo e abrangente, o Cangaço, com suas vinculações e insurreições, traz para o Sertão nordestino, ou mesmo para além dele, uma significativa visão de um Brasil vigoroso e sutil, problemático e iluminado como qualquer ser humano. É preciso consciência, inteligência, paciência, vivência em si para compreender esse fenômeno em toda sua extensão e repercussão. Pô-lo ao sabor das revoltas sociais, ou mesmo delimitá-lo no tempo, numa determinada época, é temerário, gera controvérsias e atropelos, não traduz sua luz nem seus breus. Daí que se faz necessário penetrar no cerne da questão e, digamos, a tarefa é ingrata, cascata de areia em meio ao seio dos veios dos rios temporários do Sertão. E justiça seja feita: A alma do mundo é o Sertão. Com sua seara de encantamentos e funduras acaba por nos revelar o quanto o mundo é transitório e imaginário, cenário de especulações e percepções raras. O sol neste espaço ganha conotações profundas, tece o espírito do sertanejo com a claridade de seus olhos iluminados pela solidão dos mulungus, umbus, urubus, surucucus, jucurutus e cururus deste Sertão que nasce, antes, dentro de nós e segue pela atmosfera como as feras dançando nas esferas das estratosferas. Quanto mais penetramos em nós mesmos, mais nos sujeitamos às leis da delicadeza e do silêncio. Não esqueçamos que o estudo sobre o Cangaço é obra sujeita a desvios de rumos, a mudanças de conceitos, a desnorteamentos interiores. E, de fato, para qualquer opinião ser emitida, precisa estar abalizada, cercada das melhores informações, de livros a revistas, passando por enciclopédias e dicionários, monografias, dissertações e teses; de poemas a músicas, penetrando na essência de cordéis, sextilhas, décimas, quadras, galopes, pés-quebrados, motes, cantorias, xaxados, baiões, xotes, forrós, sambas; de jornais a vídeos, adentrando em periódicos, telegramas, cartas, filmes, programas televisivos; de entrevistas a viagens, fluindo por cidades, museus, universidades, escolas, bibliotecas, livrarias, rios, chapadas, serras, caldeirões, dialogando com pessoas diversas, vendo e revendo o universo do Sertão, ainda em muitos lugares com feiras e pelejas, com cegos e aboiadores, terreno sagrado trazendo a alma do movimento de nossos antepassados para o intento que se busca, um elemento que delineie e clareie a força de nossas tradições em tudo que amamos e recriamos em nós, a todo instante. E após a realização de tudo isso, o tema ainda não estará esgotado, mesmo que melhor esmiuçado. Desde a origem do próprio nome, que muitos estudiosos afirmam se originar da palavra “canga”, peça de jugo dos bois, ou, ainda, como se verifica no dicionário Caldas Aulete(1958), tem-se que era um pau que atravessava os ombros de dois homens para suspender o fardo que eles transportavam, verifica-se que as coisas podem não ser bem assim. Há inúmeros vocábulos no Brasil, fora e dentro do Sertão, que remetem ao termo “canga”. Veja-se, por exemplo: Japecanga(planta liliácea de valor medicinal, também conhecida como salsaparrilha), cangancha(trapaça no jogo), cangambá(o mesmo que jeritacaca, pequeno mamífero mustelídeo), cangapé(dar um pulo ao se mergulhar, não só em águas, como também em areias ou no nada), cangatã e cangati(peixes de nossos rios, nomes expressos em tupi-guarani), cangaçais(mobília de gente pobre), cangalha(armação para sustentar e equilibrar a carga das bestas, distribuindo-a em duas metades), cangá(termo que, na Bahia, designava um tipo de alforje). Assim, constata-se que utilizar o nome Cangaço como origem apenas de “canga”, pode não ser conveniente, visto que a própria palavra se ramifica numa quantidade enorme de vocábulos com variados significados, construindo e reconstruindo a gênese e a mimese dos encantos do Sertão. O termo final “aço” ainda, também, não foi plenamente entendido e dissecado. Nele, como sabemos, o aumentativo, ou mesmo o diminutivo, em forma pejorativa, podem ser utilizados. Compreenda-se que tal palavra representa toda e qualquer espécie de arma branca, defensiva ou ofensiva. E, indo mais a fundo na questão, “coração de aço” e “alma de aço” trazem, logo à tona, o homem guerreiro e corajoso, tenaz e empreendedor, capaz e altivo, sincero e alvissareiro, de todas as épocas, não só Brasil, ou mais especificamente no Sertão, mas no mundo. É interessante se observar que “aceiro” é uma forma antiga, antiqüíssima, de sinônimo para aço. E, assim, mais uma vez, enxerga-se a sutileza do nome Cangaceiro que, ao que tudo indica, pelo menos no seu prefixo final, pode fazer referência ao “espírito de aço” dos homens valentes do Sertão. É claro que muito ainda pode ser revelado e entendido, debulhado com exatidão, alargado com hipóteses e estudos profundos que traduzam, de forma precisa e concisa, o quanto precisamos entender o Brasil, aflorá-lo, situá-lo no tempo, impulsioná-lo para o infinito, tratá-lo com o carinho de um passarinho por seu ninho, reinterpretá-lo a todo momento, pois esta é a nossa casa, compêndio magnífico de montanhas, estórias e histórias, fauna, flora, rios, lagos, riachos ou, adentrando no mundo encantado do Sertão, cacimbas e caldeirões, açudes e veios que nos tragam a essência de nós mesmos, brava gente silente em relação a suas tradições e ao futuro de seus atos. O Cangaço é tema de lendas, parlendas, contendas encantadoras e destruidoras. Em suas sendas, Lampião penetrou como ninguém, clareou, de forma astuta e absoluta, o território sagrado do Sertão, o imaginário burilado de seu povo. O Cangaço é um dos encantamentos do Sertão. Há os que interferirão em seus conceitos e leitos sem a delicadeza desta percepção. Cairão em buracos, grudados a ratos e carrapatos, e não beberão das fontes dos horizontes que o Sertão traz para seus filhos, trilhos soltos na eternidade da doçura dos sequilhos e polvilhos, dos milhos assados na fogueira de são joão, dos brilhos nos olhos das crianças que trarão em si o amanhã de suas singularidades.


Lampião e seus cabras: representações do cangaço na cultura popular


Por: Caio César Santos Gomes

Os estudos sobre o cangaço estão presentes nas diversas áreas da pesquisa histórica, uma vez que essa temática foi e continua sendo um ponto de discussão sobre o qual emergem diversos questionamentos que contribuem para a produção de pesquisas acadêmicas e profissionais.

Do ponto de vista da historiografia, muitos estudos referentes ao cangaço já foram produzidos, o que corrobora a importância de tal assunto para a história regional e nacional. A maioria dos estudos realizados se debruça sobre o movimento em questão, bem como o resultado material de suas ações pelos sertões do nordeste brasileiro. Porém, cabe salientar que a presença o cangaço tem sua importância reconhecida não apenas devido às proporções que o movimento tomou ao longo de décadas. Uma das marcas deixadas pelo cangaço foi a forte influência nas formas de representação cultural.

O movimento do cangaço tem uma presença marcante em diversos segmentos da cultura popular do Nordeste brasileiro. As influências podem ser facilmente percebidas, merecendo destaque a literatura pela vasta produção sobre o assunto. Mas essas influências não estão restritas ao campo da literatura, elas também aparecem com bastante solidez no teatro, na música, nos grupos de bacamarteiros, na culinária, no artesanato, no cinema, enfim, numa série de manifestações que retratam o cotidiano popular.

O artesanato regional é um forte repositório dos elementos figurativos e representativos do movimento. Em qualquer ponto turístico da Bahia ao Ceará é possível encontrar diversas lembrançinhas que remetem a figura dos cangaceiros. Outro repositório são as feiras livres, que vendem a céu aberto vários utensílios típicos da época e que remonta ao período do banditismo social e a ação dos cangaceiros nos sertões como os típicos chapéus e sandálias em couro, armas brancas como facas e facões, lamparinas, esteiras, chapéus de palha, enfim, uma série de elementos que eram utilizados no dia-a-dia por Lampião e seu bando.

Uma das maiores formas de representação e difusão do cotidiano do cangaço são as quadrilhas juninas, desde aquelas que apresentam o casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita, até as que trazem no nome a referência ao cangaço. Um dos refrões mais conhecidos do grande público: “Acorda Maria Bonita! Levanta vem fazer o café, que o dia já vem raiando e a polícia já ta de pé.” é presença garantida na maioria das quadrilhas juninas, e mostra como era o dia-a-dia de um grupo de cangaceiros: acordar cedo, preparar algo para comer e logo em seguida sair em fuga para escapar das forças volantes.

A existência dos elementos representativos do cangaço na cultura popular como observamos, é uma realidade que a todo tempo se mostra presente no nosso dia-a-dia. Por vezes, é comum que esses detalhes passem despercebidos aos nossos olhos, mas basta observar ao nosso redor e veremos que ainda se mantém viva as tradições e as memórias de Lampião e seus cabras em na região, e cabe a pesquisa histórica e principalmente as futuras gerações preservar esse patrimônio tão rico e memorável que são as tradições, as representações, enfim, a cultura popular, maior marca da identidade de um povo.

Caio César Santos Gomes - Graduado em História pela Universidade Tiradentes (UNIT); Pós-graduando em Ensino de História pela Faculdade São Luís de França (FSLF)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Transcrição da carta enviada por Lampião ao governador de Pernambuco

Senhor governador de Pernambuco,

Suas saudações com os seus.


Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas. (...) Se o senhor estiver no acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. Aguardo a sua resposta e confio sempre.


Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão

Fonte: livro Lampião, seu tempo, seu reinado - vol. III, de Frederico Bezerra Maciel, Editora Vozes. O arquivo do governo de Pernambuco sobre Júlio de Melo está indisponível, e a versão acima foi compilada por Maciel com base nas entrevistas de Pedro Paulo Mineiro Dias à imprensa pernambucana.

Lampião: O desafio do "governador do sertão"

Por Moacir Assunção
 
 
 
Ninguém sabe ao certo até onde foi à surpresa do então governador de Pernambuco, Júlio de Melo, naqueles primeiros dias de dezembro de 1926, quando recebeu das mãos do chefe de polícia Antônio Guimarães uma desaforada carta de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, propondo nada menos que a divisão do estado em dois e a indicação dele - Lampião - como "governador do sertão", título que os jornais locais estavam lhe conferindo, depois de muitas estripulias cometidas por seu bando.

Conhece-se apenas a reação do dirigente do estado, registrada pelos historiadores Frederico Pernambucano de Mello e Frederico Barbosa Maciel: "A proposta de Lampião terá uma resposta à altura de seu atrevimento e ousadia". E fica mais fácil entender esse atrevimento quando se recorda que na época Lampião se sentia excepcionalmente fortalecido por ter acabado de derrotar, em 27 de novembro, uma supervolante de 300 soldados, comandada por seus piores inimigos. Isso acontecera na Batalha da Serra Grande, a mais violenta da história do cangaço.

No dia 12 de dezembro, Júlio de Melo seria sucedido por Estácio Coimbra, que não se deu por rogado diante do desafio. Colocou na chefia da polícia um jovem advogado, filho de uma família aristocrática da Zona da Mata, Eurico de Souza Leão, que se encarregaria de dar a resposta oficial ao bandoleiro. Leão tomou, então, medidas que fizeram com que, em um prazo de um ano e meio, Lampião estivesse totalmente derrotado em seu estado natal.

Para começar, trocou os soldados do litoral que combatiam os cangaceiros - chamados pejorativamente de "pés-de-barro" - por sertanejos de hábitos e resistência física exatamente iguais às dos bandidos. Depois, começou a prender e processar os coiteiros (protetores de cangaceiros), quebrando a tradicional complacência e até mesmo cumplicidade dos poderosos chefes do interior para com Lampião e seus seguidores. Por fim, promoveu convênios com os estados vizinhos para enfrentar os bandidos.
Na carta, repassada a Guimarães pelo representante comercial da multinacional Standard Oil, Pedro Paulo Mineiro Dias, que havia sido refém do bando antes da Batalha da Serra Grande e solto sem pagamento de resgate, o bandoleiro propunha a partilha do estado de Pernambuco, de forma que ele, Lampião, governasse o trecho de Rio Branco (atual Arcoverde) até o sertão e o governador, de Rio Branco até "onde bate a pancada do mar", ou seja, Recife. Em Rio Branco terminava, na época, a linha férrea da Great Western and Brazil Railway.

Na curiosa "proposta", Lampião e o governo do estado nordestino viveriam em harmonia, cada um em seu feudo, como se o Pernambuco do começo do século XX fosse a Europa da Idade Média. Aquela não seria a primeira nem a última vez que Lampião faria um desafio aberto ao governo de um dos sete estados nordestinos pelos quais circulou, mas dessa vez a ameaça ganhava maior importância porque o cangaceiro - que em março daquele ano havia sido armado e municiado pelo governo do presidente Artur Bernardes para enfrentar a Coluna Prestes - vivia o apogeu do seu domínio sobre a região e seus habitantes.
Patente de capitão
A passagem da Coluna Prestes pelo Nordeste, em 1925, fizera com que o deputado Floro Bartolomeu, médico baiano que era uma espécie de alter ego do Padre Cícero, propusesse ao governo federal a contratação de Lampião para enfrentá-la. O bandido receberia, então, em 4 de março de 1926, a patente de capitão dos chamados Batalhões Patrióticos, milícia irregular formada para combater os comunistas.

Assim, o mais moderno armamento, como rifles Winchester modelo 44 e pistolas Mauser e Parabellum, além de farta munição, foi repassado aos bandoleiros, que, no entanto, somente uma vez, entre as cidades de São Miguel e Alto de Areias, no Ceará, deram combate a patrulhas avançadas da coluna do Cavaleiro da Esperança, apelido dado pelo escritor Jorge Amado ao líder Luís Carlos Prestes. Bem armados e municiados, com excelentes cavalos, fardamento militar na cor azul e a carta-patente assinada pelo Padre Cícero, os bandidos encontravam-se em um momento muito favorável.
Em 1938, pouco depois da morte de Lampião, Mineiro Dias contou, em entrevista ao jornal recifense A Noite, detalhes de sua participação no episódio. "Foi uma luta bonita, que durou o dia inteiro, e eu firme, embora assustado. A polícia retirou-se cerca das 17 horas, deixando alguns mortos e certa quantidade de munição esparsa pelo campo. É que a posição dos cangaceiros era ótima. Foi dessa vez que o então sargento Manuel Neto, lutando como um bravo, saiu ferido. Nessa noite, o harmônio [sanfona] tocou mais que em qualquer dia."

Para enfrentar adversários tão perigosos, o chefe de polícia de Estácio Coimbra mirou no ponto mais sensível para os cangaceiros: os coronéis do interior e simples cidadãos que os escondiam e lhes vendiam armas e munição em troca de proteção. Em pouco tempo, vários daqueles que forneciam armamento ao bando de Virgulino estavam na cadeia, como o coronel Ângelo Lima, o fazendeiro Ascênio Gomes e o comerciante Ascendino Gomes de Oliveira, todos sob acusação de ajudar os cangaceiros. Mesmo que os detidos não fossem os mais poderosos protetores dos bandoleiros, sua prisãoera um sinal de que algo mudava na região.

Homens duros

Em outra frente, Eurico de Souza Leão levou para a polícia sertanejos da própria região, o vale do rio Pajeú, de onde os bandidos eram originários, ampliando uma política iniciada no governo anterior. Agora, eram homens duros, acostumados a enfrentar a caatinga e suas dificuldades, que davam combate aos bandoleiros. Os resultados dessa mudança de estratégia não demoraram a aparecer. Lampião logo teria nos seus calcanhares homens como os nazarenos, naturais da cidade de Nazaré (hoje Carqueja, no Pernambuco), que se converteriam em seus piores inimigos.

Diante deles, o próprio líder cangaceiro tremeria. Mané Neto, Davi Jurubeba, Euclides Flor e Odilon Flor, entre outros, nunca lhe dariam descanso. Quando Lampião morreu, estes adversários choraram de raiva. É que, segundo Jurubeba, o bandido que eles perseguiram durante toda a vida acabou morto por João Bezerra, que não era um nazareno, mas sim um pernambucano, chefe de uma volante alagoana, por quem os nazarenos não nutriam grande simpatia. Aliás, Bezerra pediu e obteve, um dia antes do confronto, a metralhadora da volante baiana de Odilon Flor, para, afirmou, prender alguns bandidos. Flor jamais imaginou que o inimigo contra o qual iriam lutar fosse o próprio rei do cangaço. Se soubesse, estaria na linha de frente.


Os primeiros anos do governo Luciano Duque terá a cara do prefeito Carlos Evandro, a começar pelo secretariado

Paulos César é professor especialista em História Geral
 
Desde que se encerrou a apuração dos votos e que Luciano Duque (PT) foi anunciado como prefeito eleito, uma onda de boatos sobre o seu possível secretariado tomou conta dos principais veículos de comunicação e círculos sociais onde normalmente se discute política. Diante de tantas especulações, não resisti à tentação e resolvi dar o meu “pitaco”. Porém, não irei citar nomes, pois seria muita pretensão da minha parte querer prever o futuro, no entanto buscarei fazer uma rápida analise conjuntural.
 
Partido do princípio de que Luciano Duque foi eleito com o apoio do prefeito Carlos Evandro e que o mesmo defendeu publicamente a continuidade do “modelo gestão” adotado na atual administração, é possível dizer que o governo Luciano Duque será marcado inicialmente por características deixadas por Carlos Evandro. Mesmo que busque implementar de início o seu estilo, Luciano terá que trabalhar com muitas das peças que encontram-se a frente de inúmeros cargos de confiança, principalmente os do primeiro escalão, herança que será deixada pelo atual gestor.
 
Acredito que só após os dois primeiros anos de mandato o “estilo” de administrar de Luciano terá mais visibilidade e consistência, até porque será o tempo que o PT levará para mostrar a sua importância dentro do governo petista, pois muitas das propostas importantes do partido, como o Orçamento Participativo (OP), ficaram de fora da campanha eleitoral, o que impediu que o modelo de gestão da legenda fosse mais bem detalhado.
Por outro lado, o prefeito eleito tem dado sinais que indicará mais nomes técnicos do que políticos, a priori a iniciativa parece ser interessante, o problema é que ao mesmo tempo em que a máquina pode se tornar mais dinâmica, também poderá deixar a gestão distante da população urbana e das comunidades rurais, pois os técnicos possuem uma tendência a criarem relações extremamente frias, ou seja, a coisa poderá se tornar muito mecânica. O ideal é que exista um equilíbrio entre o técnico e o político.
 
Após expor esse cenário, me arrisco a dizer que para o novo secretariado o prefeito Carlos Evandro indicará entre 5 e 6 nomes, Luciano o seu grupo político, entre 4 e 5 nomes, o PT, entre 2 e 3, e a vice-prefeita, Tatiana Duarte, ficará apenas com uma secretaria. É importante frisar que os cálculos variam conforme as possibilidades de criação de novas secretarias conforme o apresentado no programa de governo. Mas, por vias das dúvidas é melhor esperar com paciência até o anuncio oficial após o 25 de dezembro, pois em política tudo pode ser possível, e até o possível pode se tornar impossível.
 
Um forte abraço a todos e até a próxima!
 
Publicado no site Farol de Notícias de Serra Talhada, em 25 de novembro de 2012.

Certidão de óbito de Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampião


Dúvida histórica: Em que dia, mês e ano Lampião nasceu?


Por Ivanildo Silveira

A data do nascimento de Lampião é muito polêmica, pois segundo a literatura cangaceira, não há harmonia de pensamento dos pesquisadores a esse respeito. Vejamos.

No estudo da data correta, duas se sobressaem:
"07 de julho de 1897" data indicada na sua certidão de Nascimento fornecida pelo Cartório de Registro Civil do 3º Distrito de Tauapiranga, do Município de Serra Talhada/PE e "04 de junho de 1898" Indicada no batistério emitido pela diocese de Floresta/PE .

(Billy Chandler; Hilário Lucetti; Aglae de Lima; Rodrigues de Carvalho defendem a data de 07 de julho.
Já Antonio Amaury; Frederico B. Maciel,; Frederico Pernambucano; Nertan Macedo e Estácio de Lima defendem a data de 04 de junho)

Outra data citada pelos estudiosos, tem como nascimento o dia: "12 de fevereiro de 1900" . (Leonardo Mota, Ranulfo Prata; Câmara Cascudo; Melchiades da Rocha etc.).

VIDE, ABAIXO, CÓPIAS DA CERTIDÃO DE BATISMO E REG. CIVIL DE VIRGULINO:

 
Filho de José Ferreira dos Santos e de Maria Sulena da Purificação, sendo seus avós paternos Antônio Ferreira de Barros e Maria Francisca da Chaga, e avós maternos Manoel Pedro Lopes e Jacoza Vieira da Solidade. Observe a reprodução da Certidão de Nascimento acima. Clique para ampliar.

Em
face dessas divergências de datas existentes no Batistério e Registro do Rei do Cangaço, fica difícil uma conclusão. Vejam que grandes historiadores/pesquisadores do cangaço não comungam da mesma opinião, imaginem nós, que somos simples mortais, e curiosos no estudo do tema.

Em minha modesta opinião, entendo que a data do batistério é a correta, uma vez que, é um ato que antecede o Registro de Nascimento, e que o sertanejo (hoje e naquela época), privilegia a feitura do primeiro (batistério), em detrimento do segundo (registro nascimento).

Ademais, é comum não só no sertão, mas no interior de todos os Estados, haver divergência de datas entre o Batismo e o Registro de nascimento. Tal fato, já aconteceu com minha família ( 09 filhos ), e o meu pai ao fazer o registro, trocava as datas de nascimento (RISOS), imagine no tempo de Lampião, com deficiências de cartórios/Igrejas.

Fonte: Blog Lampião Aceso

domingo, 25 de novembro de 2012

Deus e diabo na terra do sol: A noite em que Padre Cícero conversou com Lampião

Ali estavam, frente a frente, pela primeira e única vez, Lampião e Padre Cícero, os dois maiores mitos de toda a história nordestina. Uma terceira figura mitológica era indiretamente responsável por aquele encontro inusitado: Luís Carlos Prestes, o comandante da Coluna Prestes, movimento militar guerrilheiro que desde o ano anterior serpenteava pelo interior do país, enfrentando as tropas do presidente Artur Bernardes. Quando a marcha da coluna revolucionária rumou para o Nordeste, o governo federal não teve dúvidas: convocou os chefes políticos locais para formarem exércitos próprios e combater os rebeldes. No livro O General Góes Depõe, da década de 1950, o próprio general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior das operações contra a Coluna, assume que partiu dele a idéia de convocar jagunços e cangaceiros para fazer frente ao avanço de Prestes. No Ceará, coube ao deputado Floro Bartolomeu, médico e aliado político do Padre Cícero, fazer o convite oficial ao bando de Lampião para se engajar no“Batalhão Patriótico”. Em fevereiro de 1926, Padre Cícero ainda tentou uma solução pacífica. Enviou aos revolucionários uma carta em que os incitava a depor armas. Em troca, prometia-lhes abrigo em Juazeiro do Norte (CE), onde teriam garantias legais de que seriam submetidos a um tratamento justo. De acordo com o relato de Lourenço Moreira Lima, secretário da Coluna revolucionária, a mensagem foi recebida. “Tivemos a oportunidade de ler essa carta, escrita com uma grande ingenuidade, mas da qual ressaltava o desejo íntimo e sincero do padre no sentido de conseguir fazer a paz”, escreveu Moreira Lima em seu diário de campanha, publicado em 1934. O pedido, como se sabe, foi ignorado. Quando Lampião chegou no dia 4 de março à cidade de Juazeiro do Norte, atendendo ao chamado de Floro, este não se encontrava mais por lá. Doente, o deputado federal viajara para o Rio de Janeiro, onde acabaria morrendo. Padre Cícero se viu então com um problema nas mãos: recepcionar o famoso bandido e seus cabras na cidade e, mais ainda, cumprir o que havia sido combinado entre Lampião e o deputado, com a devida aprovação do governo federal: o cangaceiro deveria receber dinheiro, armas e a patente de capitão do“Batalhão Patriótico”. Lampião e outros 49 cangaceiros ocuparam uma casa próxima à fazenda de Floro, nas imediações da cidade, e, em seguida, alojaram-se em Juazeiro do Norte, no sobrado onde residia João Mendes de Oliveira, conhecido poeta popular da região. Foi lá que, da janela, Virgulino atirou moedas ao povo e onde, durante a madrugada, Padre Cícero encontrou o bando. Os bandidos, ajoelhados em deferência ao sacerdote, teriam ouvido o padre tentar convencer seu líder a largar o cangaço logo após voltasse da campanha contra Prestes. Mandou-se então chamar o único funcionário federal disponível na cidade, o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchoa, para redigir um documento que, supostamente, garantiria salvo-conduto ao bando pelos sertões e, principalmente, concedia a prometida patente. O papel, como Lampião viria a descobrir tão logo saiu da cidade, não tinha qualquer valor legal, o que não o impediu de assinar, daí por diante, “Capitão Virgulino”. Ciente da desfeita, o cangaceiro não se preocupou mais em dar combate à Coluna Prestes. Já obtivera dinheiro e armas em número suficiente para seguir seu caminho de bandoleiro, agora ostentando orgulhoso a falsa patente militar. Mais tarde, o agrônomo Uchoa justificou seu papel no episódio: diante de Lampião, assinaria qualquer coisa. “Até a destituição do presidente da República”, disse.

Bonnie e Clyde do sertão

O amor de Maria Bonita e Lampião provocou uma revolução no cotidiano dos cangaceiros

Uma sertaneja amoleceu o coração de pedra do Rei do Cangaço. Foi Maria Gomes de Oliveira, a Maria Déa, também conhecida como Maria Bonita. Separada do antigo marido, o sapateiro José Miguel da Silva, o Zé de Neném, foi a primeira mulher a entrar no cangaço. Antes dela, outros bandoleiros chegaram a ter mulher e filhos, mas nenhuma esposa até então havia ousado seguir o companheiro na vida errante no meio da caatinga. O primeiro encontro entre os dois foi em 1929, em Malhada de Caiçara (BA), na casa dos pais de Maria, então com 17 anos e sobrinha de um coiteiro de Virgulino. No ano seguinte, a moça largou a família e aderiu ao cangaço, para viver ao lado do homem amado. Quando soube da notícia, o velho mestre de Lampião, Sinhô Pereira, estranhou. Ele nunca permitira a presença de mulheres no bando. Imaginava que elas só trariam a discórdia e o ciúme entre seus“cabras”. Mas, depois da chegada de Maria Déa, em 1930, muitos outros cangaceiros seguiram o exemplo do chefe. Mulher cangaceira não cozinhava, não lavava roupa e, como ninguém no cangaço possuía casa, também não tinha outras obrigações domésticas. No acampamento, cozinhar e lavar era tarefa reservada aos homens. Elas também só faziam amor, não faziam a guerra: à exceção de Sila, mulher do cangaceiro Zé Sereno, não participavam dos combates – e com Maria Bonita não foi diferente. O papel que lhes cabia era o de fazer companhia a seus homens. Os filhos que iam nascendo eram entregues para ser criados por coiteiros. Lampião e Maria tiveram uma filha, Expedita, nascida em 1932. Dois anos antes, aquele que seria o primogênito do casal nascera morto, em 1930. Entre os casais, a infidelidade era punida dentro da noção de honra da caatinga: o cangaceiro Zé Baiano matou a mulher, Lídia, a golpes de cacete, quando descobriu que ela o traíra com o colega Bem-Te-Vi. Outro companheiro de bando, Moita Brava, pegou a companheira Lili em amores com o cabra Pó Corante. Assassinou-a com seis tiros à queima-roupa. A chegada das mulheres coincidiu com o período de decadência do cangaço. Desde que passou a ter Maria Bonita a seu lado, Lampião alterou a vida de eterno nômade por momentos cada vez mais alongados de repouso, especialmente em Sergipe. A influência de Maria Déa sobre o cangaceiro era visível. “Lampião mostrava-se bem mudado. Sua agressividade se diluía nos braços de Maria Déa”, afirma o pesquisador Pernambucano de Mello. Foi em um desses momentos de pausa e idílio no sertão sergipano que o Rei do Cangaço acabou sendo surpreendido e morto, na Grota do Angico, em 1938, depois da batalha contra as tropas do tenente José Bezerra. Conta-se que, quando lhe deceparam a cabeça, a mais célebre de todas as cangaceiras estava ferida, mas ainda viva.

Saiba mais

LIVROS

Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Frederico Pernambucano de Mello, Massangana/Girafa, 2004

Lampião: Senhor do Sertão, Élise Grunspan-Jasmin, Edusp, 2006

A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, Mauad, 2007

Lampião: O Rei dos Cangaceiros, Billy Jaynes Chandler, Paz e Terra, 2003

FONTE: http://historia.abril.com.br/gente/lampiao-dragao-maldade-436085.shtml

Artimanhas do cangaço: As estratégias e técnicas para despistar os inimigos

Embora seja inadequado referir-se aos cangaceiros como guerrilheiros – eles não tinham nenhum propósito político –, é inegável que lançaram mão de táticas típicas da guerrilha. Habituados a viver na caatinga, não eram presa fácil para a polícia, especialmente para as unidades deslocadas das cidades com a missão de combatê-los no sertão. Uma das maiores dificuldades de enfrentá-los era a de que preferiam ataques rápidos e ferozes, que surpreendiam o adversário. Também não tinham qualquer cerimônia em fugir quando se viam acuados. Houve quem confundisse isso com covardia. Era estratégia cangaceira.
Tropa de elite
Os bandos eram sempre pequenos, de no máximo 10 a 15 homens. Isso garantia a mobilidade necessária para a realização de ataques-surpresa e para bater em retirada em situações de perigo.
Calada da noite
Em vez de se deslocar a cavalo por estradas e trilhas conhecidas da polícia, percorriam longas distâncias a pé em meio à caatinga, de preferência à noite. Para evitar que novas vias de acesso ao sertão fossem abertas, assassinavam trabalhadores nas obras de rodovias e ferrovias.
Os apetrechos
Todos os pertences do cangaceiro eram levados pendurados pelo corpo. Como não se podia carregar muita bagagem, dinheiro e comida eram colocados em potes enterrados no chão, para serem recuperados mais tarde.
Raposas do deserto
Cangaceiros eram mestres em esconder rastros. Alguns truques: usar as sandálias ao contrário nos pés. Pelas pegadas, a polícia achava que eles iam na direção contrária (detalhe); andar em fila indiana, de costas, pisando sobre as mesmas pegadas, apagadas com folhagens; pular sobre um lajedo, dando a impressão de sumir no ar.
Peso morto
Com exceção de seqüestrados, quase nunca faziam prisioneiros em combate, pois isso dificultaria a capacidade de se mover com rapidez. Também não mantinham colegas feridos ou com dificuldade de locomoção.
Seu mestre mandou
Para resolver discórdias internas no bando, Lampião sempre planejava um grande ataque. Todos os membros do grupo se uniam contra o inimigo e deixavam de lado as divergências entre si.
Os infiltrados
Quem dava abrigo e esconderijo aos cangaceiros era chamado de coiteiro e agia em troca de dinheiro, de proteção armada ou mesmo por medo. Coiteiros que traíam a confiança eram mortos para servirem de exemplo.
Rota de fuga
As principais áreas de ação do cangaço eram próximas às fronteiras estaduais. Em caso de perseguição, eles podiam cruzá-las para ficar a salvo do ataque da polícia local.
Fogo amigo e inimigo
Durante os combates, havia uma regra fundamental: em caso de retirada, nunca deixar armas para o inimigo; nas vitórias, apoderar-se do arsenal dele.
 
 

ATIVIDADE DE DIREITO CIVIL - SUCESSÃO

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