INTRODUÇÃO
Os anos de 1989/1990, registram o Jubileu do bicentenário da invocação de N.
S.ra da Penha, como padroeira da Serra Talhada.
À efeméride, o Monsenhor Jesus Garcia Riaño, vigário da paróquia, pretendeu que
deixássemos catalogados, para conhecimento das gerações vindouras, alguns fatos
que se perderiam na voragem do tempo.
Primeira capela de Nossa Senhora da Penha erigida pelos escravos, por
iniciativa de Filadélfia Nunes de Magalhães, nos anos 1789/1790, pertencente à
Paróquia Nossa Senhora das Conceição sediada em Flores. Serviu como Matriz da
Paróquia Nossa Senhora da Penha de 1842 a 1853, quando mudou o título de Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos, para uso dos escravos. Em 1967 tornou-se Matriz
da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.
Todos sabemos que a religião católica no Brasil Colônia, esteve interligada à
vida civil, porquanto os párocos administravam a receita recolhida do dizimo,
promovendo sua aplicação nos serviços de interesse publico, sobretudo
religioso.
Com o advento da independência em 1822, esse sistema permaneceu, face o artigo
5º da Constituição de 1824 determinar que o Catolicismo seria a religião
oficial do Império.
Esse privilégio só foi abolido em 1891, pela Constituição da República.
Em virtude dessa evidência, não se deve estranhar, que ao se falar da evolução
histórica de nossa igreja, sejam mencionados atos e fatos que mais pareçam
dualismo - Religião e Política.
I.
Localizada no centro geográfico da capitania de Pernambuco, a área que recebeu
o nome de Fazenda Serra Talhada, propriedade da Casa da Torre, Bahia, detentora
do morgado de Francisco Garcia D'Ávila, teve o seu território traçado por dois
caminhos, que se cruzavam precisamente no local onde foi erigido o primitivo
arraial.
A movimentação de portugueses em busca de terras devolutas, ampliada por
ruralistas que fugiam da monocultura da cana de açúcar na zona da mata, tornou
possível uma vida comunitária de regularidade duvidosa. Não obstante, o
português Agostinho Nunes de Magalhães obteve deferimento ao pedido de arrendamento
à Casa da Torre para explorar quatro fazendas na região, inclusive Serra
Talhada. Em abril de 1757, forma pagos os primeiros tributos por essa ocupação.
Tornando possível a reunião de feirantes a partir do dia 10 de fevereiro de
1778, segunda-feira.
Durante os anos de 1789/1790, Filadélfia Nunes de Magalhães, filha de
Agostinho, utilizando mão de obra escrava, providenciou a construção de uma
capela sob invocação de N. Sra. da Penha de França pertencente à freguesia de
N. Sra. da Conceição, da Vila de Flores. Esse pequeno templo erigido à frente
da casa senhorial, serve atualmente como matriz à paróquia de N. Sra. do
Rosário, fundada em 07 de fevereiro de 1967.
Houve doação de um sitio patrimonial em nome da Padroeira, todavia é pouco
provável que se tenha legalizado com escritura. Esse fato fica evidenciado com
a legalização em 26/04/1851 de uma área que constitui o atual patrimônio de N.
Sra. do Rosário, sobre a qual repousa a maior par te desta cidade. A escritura
está assinada por Joaquim de Magalhães Lopita e sua mulher Josefa Cordeiro dos
Santos.
A lei provincial nº 52, de 18/04/1838, criou a freguesia de N. Sra. da Penha em
Serra Talhada, desmembrada da paróquia de Flores.
A efervescência política em Pernambuco, agravada durante a regência,
responsável pelo governo do Império, durante a menoridade de D. Pedro II,
retardou em mais de quatro anos a instalação desta Freguesia, que finalmente se
concretizou no dia 03/12/1842.
A solenidade revestida de inusitada imponência, foi assistida pela grande
maioria dos habitantes da zona rural e presidida pelo padre visitador,
Francisco Antonio da Cunha Pereira, representante da Diocese de Olinda, que
contou com a participação do Padre Antônio Gonçalves Lima, vigário interino,
sendo a tudo presentes os fazendeiros Manoel Nunes de Magalhães e Manoel Nunes
de Souza.
O padre visitador, conferiu as alfaias e demais pertences da igreja, elogiando
o zelo com que mantinham a matriz e seu patrimônio.
II.
O reverendo Francisco Barbosa Nogueira, serra-talhadense, filho do proprietário
da fazenda Escadinha, não exerceu função eclesiástica, porquanto se integrou às
lides da zona rural. Faleceu aos 18/02/1839, foi sepultado na Capela (Matriz)
envolto nos paramentos e encomendado solenemente pelo padre Antônio Gonçalves
Lima.
Um detalhe pode parecer estranho: o de que no dia 25/08/1837, o padre Antônio
Gonçalves Lima, na condição de vigário interino e o frei Simão do Coração de
Maria, instalado na povoação de São Francisco, celebravam atos religiosos,
inclusive batizados e casamentos; observa-se que o decreto de criação da
Paróquia só foi elaborado no ano seguinte. Alem disso, em 1839 mesmo antes da
instalação de freguesia, o padre Felix José Marques Bacalhau, exercia as
funções de vigário da Matriz da Penha, tendo como coadjutor o padre Antonio
Gonçalves Lima.
Por decreto do Bispo de Afogados da Ingazeira, foi desmembrada a paróquia de N.
Sra. do Rosário, no dia 07/02/1967 e nomeado o padre Afonso Carvalho, vigário
efetivo.
Dom Francisco Austregésilo de Mesquita, bispo diocesano, sempre preocupado com
a evangelização, decidiu fundar uma terceira freguesia em Serra Talhada, com
sede no Alto do Bom Jesus, cujo orago é o Bom Jesus Ressuscitado. O templo
moderno teve a construção administrada pelo padre Afonso Carvalho, nomeado
titular da nova paróquia.
Na vacância paroquial de N. Sra. do Rosário, o padre Afonso foi substituído
pelo padre Francisco de Assis Rocha.
Paralelamente ao trabalho dos sacerdotes que serviram ao longo de 200 anos
nesta paróquia, constatamos nas pesquisas efetuadas, que houve trabalho
missionário de catequese a cargo de frades e até de padres seculares, como é o
caso do padre José Antônio Maria Ibiapina.
Em 1837 esteve missionando nesta cidade, o frei Simão do Coração de Maria e
logo depois, o padre Francisco José Correia de Albuquerque, ambos convidados do
vigário interino padre Antônio Gonçalves Lima, que sentiu-se impotente para
enfrentar os fanáticos da Pedra Bonita (Pedra do Reino).
O trabalho de conversão foi efetuado num ambiente onde se prometia libertação
aos escravos, riqueza material aos pobres e deixar a pele dos negros
"branca como a lua". Tudo isso, por conta dos mistérios que envolviam
a restauração do reino de Dom Sebastião de Portugal, o qual, segundo pregação
do líder facinoroso dos fanáticos, não teria falecido naquele dia fatídico para
as armas portuguesas (04/08/1578). Aconteceu, como dizia, que o rei se
encantara e só então desencantaria com um exército imponente e transformando as
pedras de Serra do Catolé em ouro de bom quilate.
Tais promessas feitas num ambiente onde o analfabetismo estava virtualmente
oficializado, onde a chaga da escravidão deixava marcas indeléveis e a miséria
dos ruralistas era agravada pela ocupação das terras por latifundiários.
A missão em nome de Deus e da igreja teve pouca eficácia.
Como era de se esperar, o desfecho final foi sangrento e de crueldade
inominável. Os fazendeiros em nome da Guarda Nacional, sob o comando dos
Coronéis Manoel Pe rei ra da Silva e Simplicio Pereira da Silva, fizeram valer
a força do bacamarte.
Nesse trabalho, desenvolvido por missionários, merece destaque o de frei
Caetano de Messina, italiano da Sicília, que promoveu verdadeira revolução
desde o litoral ao Pajeú, pregando a fraternidade, o amor ao próximo e o
perdão, num ambiente onde só floresciam o ódio e a vingança. Foi em 1853/1854
no vicariato do padre Manoel Lopes Rodrigues de Barros.
O seu trabalho missionário de quase dois anos, envolveu obras de construção de
um novo templo para N. Sra. da Penha e um cemitério, porquanto os sepultamentos
eram efetuados até então, nas fazendas ou dentro da própria igreja.
Dinâmico, culto e virtuoso, o frei Caetano de Messina, marcou época em Vila
Bela.
O destino, que sempre foi amigo desta terra, o mandou para cá numa quadra em
que se transferia a sede da Comarca de Flores para Serra Talhada, com o nome de
Vila Bela.
Desde então, a antiga Capela ficou destinada a N. Sra. do Rosário dos Pretos,
onde os escravos podiam participar de atos religiosos e receber sacramentos.
Exigente no cumprimento da missão sacerdotal, o frei Caetano desentendeu-se com
o não menos zeloso vigário Manoel Lopes Rodrigues de Barros. Dai terem eles
mantido certa dista~cia no cotidiano.
Ao fim desse trabalho, o frei Caetano teve de voltar ao Recife para assumir a
função de Superior da Ordem dos Capuchinhos da Penha.
Antes, porém, numa solenidade onde reuniu muitas pessoas, ele pediu a presença
do vigário para despedir-se dele e do povo, e como das vezes anteriores, pregou
o perdão, e ajoelhado aos pé do padre Rodrigues de Barros, suplicou- lhe
perdoar por tudo quanto lhe tivesse magoado. E mais ainda, pediu aos presentes
que lhe seguissem o exemplo, deixando de lado a máscara do amor próprio... Quem
tivesse desafeto se perdoasse mutuamente. Assim Cristo recomendou...
O impacto foi tão forte que as rixas existentes entre alguns dos presentes se
desfizeram naquele momento.
Frei Caetano deixou entre nós, como obrigação religiosa, as celebrações do mês
de maio em honra da Virgem de Nazaré.
Outro missionário que deve ser lembrado, em virtude do gigantismo de sua obra,
é o padre José Antonio Maria Ibiapina.
Certa ocasião, dizia ele ao superior do Seminário de Olinda, onde exercia altas
funções na administração e como professor emérito, que sofrera frustração como
advogado, como parlamentar e, havendo abraçado a vida eclesiástica o seu
desencanto parecia avultar-se, porquanto, dos morros de Olinda ficava a
contemplar a pradaria onde a miséria, do povo desassistido, aumentava
assustadoramente.
“Não seria pra lá que o Cristo me mandaria?” Perguntou.
“Sendo esta sua vocação, vá, seja bem sucedido”, respondeu o superior.
Iniciou o seu trabalho no agreste pernambucano, mais precisamente em Gravatá do
Jaburu. Disseminou ao longo da Província casas de caridade e orfanatos,
construiu açudes públicos e templos religiosos. O artesanato foi a melhor saída
para encaminhar a vida de órfãs carentes.
Em 1872, esse gigante do cristianismo chegou a Vila Bela, havendo providenciado
para que se construísse um templo de duas torres em estilo romano, tão maior
que a igreja de Frei Caetano, só foi demolida para ter lugar a inauguração,
porquanto aquela, ficaria dentro do templo majestoso.
Não lhe faltou recursos para consecução dos trabalhos; corajoso, inteligente e
hábil, mobilizou os fazendeiros de tal maneira, que cada um. sentia-se
responsável direto pela execução dos serviços. De Andrelino Pereira da Silva -
Barão do Pajeú, obteve além da carta de alforria pa ra o escravo Miguelino, que
lhe construiu as duas torres do templo, uma lâmpada de prata fina para iluminar
o sacrário. De valor inestimável, casa jóia em forma de alfaia religiosa, está
hoje a serviço de Deus e da igreja na Catedral de Santa Águeda, em Pesqueira,
levada sem explicação pelo Bispo Dom José Lopes.
Não fosse a exigüidade de espaço, valeria dizer muito mais, de quanto realizou
o Padre Ibiapina. Seria injusto não registrar aqui, a ação sócio-filantrópica
de sua obra religiosa, distendida do litoral de Pernambuco até Picos no Piauí,
na província do Ceará, onde nasceu e na Paraíba, ao tempo em que as viagens
eram realizadas a cavalo.
Creio, nenhum estadista abnegado, nem mesmo Dom Bosco, se arriscaria ainda
agora com a modernização dos meios de comunicação, levar a cabo obra tão
meritória. Reestimulou entre nós as comemorações Marianas e deixou o hábito de
rezar o oficio de N. Sra. na madrugada.
Deve ficar registrado que o costume de hastear bandeirinha branca, nos
terreiros da zona rural, foi uma idéia do padre Ibiapina, para simbolizar a fé
e a paz, tão carentes em nosso meio.
Na localização da Matriz de duas torres, em 1872, não se observou atentamente o
alinhamento das ruas laterais da praça principal, que devidamente projetada,
estava com suas edificações em andamento.
O conjunto de construções ficou em desarmonia com o templo, que estava ao
centro,em posição diagonal. Por outro lado, viu-se que o seu aspecto físico
exterior era de uma rusticidade inaceitável, porquanto o material usado eram
pedras sem formas delineadas.
Mesmo assim, a demolição só foi cogitada 53 anos depois, sob o paroquiato do
Padre José Kehrle. Em 1925, dia 21 de agosto, realizaram uma solenidade com
celebração da eucaristia. Participaram as autoridades e muitos fiéis. Aí foi
providenciado o assentamento da pedra fundamental desse monumento sobranceiro a
nossa cidade, que é a igreja de N. Sra da Penha, em cujos alicerces estão as
pedras da obra do padre Ibiapina.
A construção, que sofreu as conseqüências da grande seca de 1930/1932,
prosseguia lentamente até 1934, quando o padre Kehrle teve de ser transferido
para Buíque em face de seu envolvimento na política partidária local.
O padre Alexandrino Suassuna de Alencar, nosso pároco durante dois anos
(1934/1936), não quis se aventurar ao reinício da obra.
Com a investidura do padre Jesus Garcia Riaño, no dia 18/12/1936, cogitou-se
repetidas vezes da retomada dos serviços da Matriz. O volume de recursos ao seu
alcance não lhe estimulava sobremaneira.
Mas um dia, lhe pareceu que a terra estava firme aos pés, e decidiu
precisamente a 03/11/1939, quando trocava-se o nome de Vila Bela por Serra
Talhada, reiniciar as obras de construção.
Para maior segurança foi demolida a torre já parcialmente construída,
reforçadas as colunas internas e externas e finalmente erigida a atual torre em
estilo gótico, pelo habilidoso mestre Josa Padilha.
Vinte e oito anos depois do assentamento da pedra basilar, vertia o ano de
1953, dia 02 de agosto, foi solenemente inaugurada a atual Matriz de N. Sra. da
Penha, pelo bispo diocesano Dom Adelmo Cavalcanti Machado, tendo havido
missa-pontifical, concelebrada por 15 sacerdotes, às oito horas, no patamar da
igreja; foi mestre de cerimônial, o padre Eraldo Cordeiro, então vigário de
Floresta.
A noite, durante celebração da eucaristia, fez-se ouvir a pregação do frei
Eliseu Maria de Oliveira Gomes, atual bispo emérito de Itabuna - Bahia.
Em nome do município falou o Prefeito Moacyr de Godoy Diniz e pelo Apostolado
da Oração, que festejava jubileu de ouro, falou o professor Aderbal Mendonça de
Maria.
Essa solenidade, foi precedida de uma preparação de 30 dias de Missões, nas
capelas distritais, pelos frades Capuchinhos da Penha do Recife: Frei Damião de
Bozano e Frei Fernando.
Ao encerrar, num ambiente de exaltação e da mais profunda emoção, o padre Jesus
Garcia Riaño, proclamou que estava vivendo o momento mais feliz de sua vida em
terras do Brasil.
São escassos os registros que ensejassem um es tudo sobre o trabalho
desenvolvido pelos nossos vigários. Do padre Antônio Gonçalves Lima, dir-se-á
que foi vigário e político, com a observação de que quando ocupava cargo
publico, não exercia nenhuma função sacerdotal. Por isso tal vez, sempre foi
interino desta paróquia. Os visitadores que fiscalizaram o seu trabalho,
deixaram registrados elogios sobre o zelo, o carinho e o amor por ele
demonstrado na função sacerdotal.
Nascido em-1795, na fazenda Soledade, deste Município, quando ainda Termo
Judiciário de Flores, faleceu no dia 09/05/1860. Foi presidente da nossa Câmara
de Vereadores por vários anos. Na época em que as epidemias de varíola, peste
bubônica e cólera - morbo infestavam toda região a prestimosidade com que se
houve o padre Gonçalves Lima ao lado do vigário Manoel Lopes Rodrigues de
Barros, qualifica-o como autêntico anjo da guarda das famílias atingidas.
Para que se possa avaliar a extensão da calamidade, basta dizer que dos
registros de nossa Matriz, constam 36 óbitos vitimas de cólera - morbo, só no
mês de maio de 1856. Esta cidade não atingira ainda 1.000 habitantes.
O padre Manoel Lopes Rodrigues de Barros faleceu com 60 anos de idade, no dia
70/08/1880, servindo a nossa paróquia num período de 30 anos.
Deveria ter estimulado instrução e educação no Pajeú.
Nem era preciso ser profeta para antever, que uma mocidade ativa como a nossa,
sem o mínimo de instrução, resultaria no que ocorreu. Ao longo dos três
primeiros decênios desta centúria, o chamado período do obscurantismo do Pajeú,
em razão do banditismo que perturbou o Nordeste, tendo como núcleo Serra
Talhada, que foi sede do reinado de Lampião.
No começo de l904, assumiu nossa paróquia o Monsenhor Afonso Antero Pequeno,
culto e bravo sacerdote, filho do Cariri (CE), descendente de uma família de
Caudilhos. Naquele ano rompeu-se no Crato a aliança política, entre os Coronéis
José Belém de Figueiredo e Antonio Luís Alves Pequeno, primo do Monsenhor
Afonso, com declaração de guerra entre as duas facções. O Monsenhor, vigário de
Vila Bela, solicitou às lideranças locais, cangaceiros, armas e munição, para
ajudar ao primo Antonio Luís, na deposição do Coronel Belém - régulo, segundo
dizia, prejudicial ao progresso do sul cearense.
O Coronel Antônio Pereira da Silva, chefe da família Pereira, sob o pretexto de
que não devia ser esta a posição do sacerdote, negou-se ajudá-lo.
Por outra parte, os representantes da família Carvalho se aprestaram em
servi-lo.
Sob o comando de Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé), formou-se um
contingente armado, tendo à frente o próprio Monsenhor Afonso Antero Pequeno, e
foi à cidade do Crato, onde contribuiu decisivamente para a vitória de Antônio
Luís.
O Monsenhor, vitorioso, voltou a Vila Bela trazendo a idéia fixa de derrotar a
família Pereira, na eleição municipal do período seguinte. Foi mais uma vez
vitorioso e assumiu o poder municipal.
Notícias do Crato lhe dão conta de que o parente Antônio Luís criara uma guarda
de segurança no Município, e estava praticando mais atrocidades do que o
Coronel Belém. Em Vila Bela, seus correligionários mandaram matar de emboscada
um patriarca dos Pereira, ex-prefeito Manoel Pereira da Silva Jacobina.
A frustração lhe perturbava de tal maneira, que renunciou ao mandato de
Prefeito, entregando o Município ao vice, fazendeiro José Alves da Silveira
Lima, com recomendação de proceder com serenidade.
Logo depois transferiu-se para Garanhuns, onde faleceu. Não sem antes haver
plantado no solo fértil de Vila Bela, a semente do banditismo.
Daí dizer-se, que com ele começou a época do obscurantismo no sertão do Pajeú,
vigente até 1930.
Em se falando de cultura, torna-se imperativo lembrar o nome do padre Mariano
Aragon, espanhol, que esteve conosco de 1915/1919. Sua Reverendíssima fundou a
Filarmônica Vilabelense,que existe ainda hoje.
A nossa banda musical teve seus dias de glória com o notável Mestre Emídio, e
com os Maestros Luiz Benjamim e Fernando Moura e Silva, sargentos da polícia.
O Jazz Band Serra Talhada, recebeu aplausos em muitos palcos do Nordeste.
Considerada uma das melhores orquestras, em pé de igualdade com as da Capital.
Serra Talhada tornou-se por isso, celeiro de grandes músicos, sobre os quais se
fará comentário em outra oportunidade.
Sobre o padre Jesus Garcia Riaño é justo acrescentar que suas ações chegaram
aos mais distantes recantos da paróquia. Em razão de haver estimulado as
construções do Ginásio Cônego Torres, Escola Normal Imaculada Conceição e
Escola Profissional Cornélio Soares. Preocupou-se em dilatar o seu trabalho,
edificando as Capelas de Bernardo Vieira, Santa Rita, Luanda, Extrema, Jardim,
Varzinha, Caiçarinha da Penha e Logradouro.
Sabe-se que ao tempo de Dom Adalberto Sobral, bispo de Pesqueira, o padre Jesus
presidiu a sessão que cogitou da instalação da Escola Normal Stella Maris em
Triunfo.
O padre Afonso Carvalho erigiu a Matriz do Bom Jesus Ressuscitado, uma obra que
dignifica seu nome e do orago.
O padre Francisco de Assis Rocha, além da edificação da casa paroquial do
Rosário, construiu as Capelas de São Cristóvão, N. Sra. da Conceição e Vila da
COHAB, em bairros desta cidade. Durante seu paroquiato desenvolveu um trabalho
de evangelização merecedor de um capítulo à parte.
No roteiro da documentação pesquisada, constatam-se as visitas pastorais a esta
freguesia; a primeira em maio de 1895 pelo Reverendíssimo Cônego João Marques
de Souza, no vicariato do padre Manoel Félix de Moura. Decorria mais de meio
século de fundação da freguesia. As viagens eram feitas a cavalo, por trilhas
quase inacessíveis num ambiente de total insegurança.
Os lusitanos aqui aportados eram pessoas de instrução elementar, que traziam a
experiência vivida no ambiente da metrópole civilizada. Os descendentes destes
formavam um tipo diferente. Uma casta de indivíduos sem a timidez do nativo,
nem a lhaneza do português. Daí a razão de ser o sertão a "pátria" da
periculosidade.
O catolicismo percorria os caminhos apontados
por Jesus de Nazaré, não receando enfrentar as adversidades. Implantou uma
sementeira na vizinha cidade de Floresta, fundando uma diocese, depois
deslocada para Pesqueira. O seu primeiro bispo, Dom Augusto Alvaro da Silva,
depois primaz do Brasil. Esse prelado visitou a paróquia da Penha duas vezes:
de 30/05 a 09/06/1912 e de 04 a 12/06/1915. Extraordinária figura de sacerdote,
Dom Augusto ativou entre nós o ensino religioso e estimulou o apostolado da
oração.
Foram abertos novos caminhos pela força do Evangelho. Com o advento do
automóvel, construiram-se as rodovias. Tudo parece mais fácil à igreja de hoje
e as visitas pastorais são atos de rotina. A Diocese instalada em Afogados da
Ingazeira, no Pajeú, cujo titular Dom Francisco Austregésilo de Mesquita, tem
dispensado muita atenção e tem tratado com especial carinho os diocesanos de
Serra Talhada. Prelado moderno, se destacou no Concilio Vaticano II.
CONCLUSÃO
Prece da Natividade de Maria de Nazaré.
Abertura da Festa Jubilar comemorativa dos dois séculos de sua invocação em
Serra Talhada-PE., como Nossa Senhora da Penha.
Agosto 29, 1990. Luiz Lorena
"E a misericórdia do Senhor se estende de geração a geração sobre os que
tem fé". (Lc. 1,50).
Paroquianos e devotos da mãe do Redentor, deve mos raciocinar sobre essas palavras
saídas dos seus lábios há mais de XX séculos.
Nascida de pais ruralistas e desposada por um carpinteiro, não lhe foi penoso
assimilar aquilo que a outras mães parecia adversidade. O que lhe preocupava
sobretudo, era a missão de entregar o fruto de suas entranhas para redenção da
humanidade.
Pouco importava que a sociedade daquela época, incoerente como a de hoje, lhe
haja negado ambiente convencionalmente condigno para o nascimento do seu filho,
que, no
entanto fora recebido em festa onde a Natureza lhe reservara um berço
diferente, feito de palhas, onde as estrelas pendidas do universo iluminavam o
campo repleto de animais que enriqueciam o local, numa gruta trabalhada pelo
tempo, havia milhões de anos.
E nós? Que ao longo desse tempo não temos sabido conciliar o nosso egoísmo, nem
atentar para a inconseqüência da guerra, dos genocídios dos assaltos e
seqüestros monstruosos, dos latrocínios e das vinganças de qualquer tipo.
As nossas mãos, no limiar do século XXI, são as mesmas que acionaram as flechas
para ferir de morte o Nazareno.
Particularizando, oh! Senhora da Penha, sobre os 70 mil fiéis desta Paróquia,
vimos rogar: estendei a nós vossas mãos, como aljava que pretendesse recolher
as flechas da incompreensão que nos ameaça. Que os próximos 11 anos que nos
separam do terceiro milênio, sirvam para nossa conversão. Que o século XXI
comece em estado de graça para nossa gente e que a fraternidade promane de cada
um, com toda eloqüência.
NOTA COMPLEMENTAR
Dia 18/12/1990. O Monsenhor Jesus Garcia Riaño, completa 86 anos de idade e 54
anos à frente da Paróquia de N.Sra. da Penha em Serra Talhada.
Nessa data compareceu em Afogados da Ingazeira à presença de Dom Francisco
Austregésilo de Mesquita, Bispo Diocesano, em companhia dos seus amigos Luiz
Conrado de Lorena e Sá, Antônio Alves Filho e Edísio Firmino dos Santos, para
entregar a Paróquia, em face da saúde precária que lhe exaure o estado físico.
O Bispo teve palavras de exaltação à obra realizada pelo renunciante.
Aceitando a decisão do Monsenhor Jesus, indicou dias depois o Padre Egidio
Bisol para substitui-lo.
A posse do novo vigário, teve lugar no dia 10/ 03/1991, com a presença do
Senhor Bispo, que concelebrou missa com os 14 Padres da Diocese, e um diácono.
A Matriz ficou repleta de fiéis.
(tirado, com permissão do autor, do livro: LUIZ LORENA: Serra Talhada. 250 anos
de história. 150 anos de Emancipação política. Serra Talhada: Sertagráfica,
2001)
Nenhum comentário:
Postar um comentário