Guy Fawkes é uma presença dominante nos protestos
no Brasil.
Você vê Guy – fala-se Gui porque Guy vem de Guido –
nas máscaras que as pessoas associam a duas coisas: o filme V de Vingança e o
grupo de hacker Anomymous.
Mas é Guy Fawkes que está ali, tal como idealizado
na história em quadrinhos de Alan Moore que serviria de base para V de
Vingança.
A expressão zombeteira e altiva de quem é
invencível em qualquer circunstância, especialmente na derrota.
Mas quem é ele?
Guy Fawkes foi o herói da Conspiração da Pólvora,
ocorrida na Inglaterra no começo dos anos 1600 e até hoje lembrada com paixão.
O que os conspiradores queriam não era pouca coisa:
simplesmente explodir o Parlamento britânico no momento em que o Rei Jaime I
abriria, formalmente, os trabalhos, em 5 de novembro de 1605.
Na essência do complô estava a raiva e a frustração
que Jaime despertara entre os católicos ingleses.
Ele sucedera Elizabete, filha de Henrique 8.
Elizabete, feia e indesejada, morreu virgem e sem
sucessores, e com ela chegou ao fim a dinastia Tudor.
Ela perseguira cruelmente os católicos, como seu
pai. Imaginava-se que Jaime, escocês da família Stuart que ascendera por conta
de laços familiares com um ramo dos Tudor, facilitaria a vida dos católicos.
Não facilitou.
Os católicos logo o detestaram – não só por manter
a perseguição como porque ele era escocês.
Logo começou uma trama para matá-lo – e a todos os
parlamentares.
Os conspiradores compraram uma casa ao lado do
Parlamento, em Westminster, e foram aos poucos, em completa discrição, enchendo
de pólvora.
Fawkes, alto, forte, bonito, um guerreiro provado em
várias guerras nas quais atuou como mercenário, tomava conta da casa, e estava
preparado para explodir a si próprio, com a casa, caso fosse descoberto.
Uma fraqueza pessoal de um dos conspiradores pôs o
plano a perder.
Na tentativa de salvar um amigo, o conspirador
relutante mandou a ele um recado cifrado e anônimo. Recomendou-lhe que não
fosse à abertura do Parlamento, no dia 5 de novembro.
O destinatário estranhou.
A carta chegou a Jaime, e o plano foi descoberto.
Fawkes foi impedido, na ação de surpresa da polícia, de explodir a casa. Ele
bem que tentou, para evitar que os conspiradores fossem descobertos, presos e
punidos.
Ele foi levado à presença de Jaime, e nasceram aí
frases memoráveis. O rei perguntou por que o objetivo era matar tanta gente – a
família real, todos os parlamentares etc?
“Tempos desesperadores exigem medidas
desesperadas”, respondeu Fawkes.
O rei insistiu perguntou: para que tanta pólvora?
“Era a maneira mais rápida de mandar todos os escoceses de volta à Escócia”,
disse Fawkes.
A coragem de Fawkes assombrou. Foi condenado à
morte por enforcamento e esquartejamento.
Submetido a uma sessão infernal de torturas, não
revelou nada que já não fosse conhecido.
Em sua História da Inglaterra para Crianças,
Dickens o define como um “homem de ferro”. (De Jaime, diz que era o mais feio,
o mais ridículo e o mais inepto dos mortais.)
O dia 5 de novembro passou a ser comemorado na
Inglaterra com uma queima de fogos.
Aos poucos, a imagem de Fawkes de vilão foi se
transformando na de um justiceiro, de um guerreiro heroico e libertário.
No filme V de Vingança é assim que ele aparece,
reencarnado num homem que usa sua máscara e, para punir um Estado totalitário,
faz o que Fawkes não conseguiu: explode o Parlamento.
A máscara de Fawkes aparece, hoje, em manifestações
de protesto mundo afora, incluídos os do Movimento Passe Livre.
É também utilizada pelos hackers do grupo
Anonymous, junto com este lema: “Nós não esquecemos, nós não perdoamos”.
A história é escrita pelos vencedores. Fawkes
perdeu, e por isso foi inicialmente tratado como um traidor vil e inclemente.
Mas, num caso raro, a posteridade transformou o
perdedor esquartejado num exemplo de coragem, bravura e justiça — num
personagem que inspira lutas contra a opressão dos Jaimes que se espalham pelo
mundo em todas as épocas.
Um comentário:
Sempre achei que as mascaras fossem por causa do grupo hacker.
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